Pesquisa do Sebrae mostrou que 60% dos pequenos negócios que buscaram empréstimos tiveram o pedido negado. Economistas e empresários dizem que medidas anunciadas pelo governo ainda não resultaram em maior acesso ao crédito.
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Rio de Janeiro (FCDL), Marcelo Mérida, reiteira que é preciso um comprometimento maior para financiar as micro e pequenas empresas do setor do comércio, “que geram milhões de empregos no Brasil, mas que ainda não foram diretamente apoiadas por linhas de crédito especiais, ou subsidiadas, neste momento de quarentena contra a pandemia do Covid-19”. Marcelo cita que a FCDL-RJ lançou a campanha “Juro Zero” para que bancos públicos tenham uma postura mais agressiva no socorro emergencial às empresas, como também cobrou esta semana a efetivação das linhas oferecidas pelo Governo, mas ainda não disponíveis nas agências.
O levantamento do Sebrae, que ouviu 6.080 empreendedores de todo o país, mostrou também que 88% das empresas tiveram queda no faturamento, com perda média de 75%, e que 55% delas afirmam que precisarão pedir empréstimos para manter seu negócio em funcionamento sem gerar demissões.
Segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), as taxas de juros das operações de crédito tiveram uma ligeira alta em março.
A taxa de juros média nas linhas para pessoa física passou de 5,76% ao mês (95,82% ao ano) em fevereiro para 5,79% ao mês (96,49% ao ano) em março. Já a taxa de juros média nas linhas para pessoas jurídicas oscilou de 3,12% ao mês (44,58% ao ano) em fevereiro para 3,17% ao mês (45,43% ao ano) em março.
Já na linha emergencial para financiar salários dos trabalhadores, na qual o Tesouro Nacional arcará com 85% dos R$ 40 bilhões ofertados, os juros são de 3,75% ao ano – taxa de juros equivalente ao CDI. De acordo com o diretor executivo da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, mesmo com a queda da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 3,75%, e com as medidas do Banco Central para ampliar a liquidez, as taxas cobradas pelos bancos nas diversas linhas seguem com tendências de alta.
“As condições de crédito pioraram, sejam na elevação das taxas de juros ,seja porque os bancos em um ambiente de maior risco de crédito estão mais seletivos e restritivos por não saberem por quanto tempo esta crise vai permanecer e os reais impactos nas empresas”, afirma Oliveira.
O Banco Central já anunciou medidas com potencial de injetar recursos no sistema financeiro e liberar até R$ 1,2 trilhão em liquidez. Entre elas, está a liberação adicional de R$ 68 bilhões em depósitos compulsórios dos bancos, o que permite que mais recursos sejam disponibilizados para empréstimos.
Levantamento do Observatório de Política Fiscal da FGV mostra que o conjunto de ações anunciadas pelo governo até o momento para amenizar os efeitos da pandemia na economia já equivalem a 7,8% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que desse percentual 2,1% se referem a medidas de crédito, índice bem abaixo do desembolsado por outros países.
“As medidas fiscais anunciadas (gastos e desonerações), e em vias de implementação pelo governo brasileiro, se aproximam do que se observa em outros países desenvolvidos. As medidas de crédito, por sua vez, continuam aquém do que é necessário para evitar que as empresas (principalmente as pequenas) se estrangulem financeiramente”, afirma o estudo.
Segundo o economista Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal da FGV, o que está faltando no sistema financeiro não é liquidez, mas sim uma maior atuação do governo para reduzir o risco e garantir um acesso mais fácil ao crédito.
“Mesmo com liquidez, existe um receio de emprestar. De modo que os bancos só tem interesse em reestruturar as operações que já foram feitas”, afirma. “O que se pode fazer para o risco cair é oferecer recursos do Tesouro para os bancos públicos atuarem de forma mais arrojada ou criar fundos garantidores com recursos do Tesouro para dar segurança para os bancos comerciais operarem. O Banco Central também pode entrar, comprando carteiras de crédito como o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] faz, isso está em discussão no Congresso. Mas creio que a forma mais rápida de fazer seria via Tesouro, como recentemente fez no BNDES, mas numa linha muito pequena”, avalia.
Fonte: Assessoria com informações de O Globo