A transformação nos padrões de consumo dos brasileiros

A evolução dos hábitos de compra e a ascensão das classes C, D e E redefinem o cenário do consumo no país, impulsionam mudanças significativas no varejo e na indústria, e criam novos padrões

Os padrões de consumo dos brasileiros têm mudado com as décadas. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), atualmente, as classes C, D e E representam 76% da população brasileira. Consequentemente, respondem pela maior parte do consumo no Brasil. Nesse cenário, e com a digitalização, muda também o comportamento do consumidor. Com isso, a indústria e o varejo devem ter atenção sobre as novas perspectivas de transformação, estratégias e execução. Além disso, uma pesquisa “Mercado da Maioria”, da PwC Brasil com o Instituto Locomotiva, mostrou que o brasileiro está mais adepto à tecnologia, em comparação ao restante do mundo.

“Nós fizemos uma um uma categorização em relação aos adeptos à tecnologia, uma régua de muito até pouco adepto. Quando comparamos essa linha com o mundo, vemos que o Brasil quer realmente consumir mais tecnologia. O brasileiro tem mais até um celular, e das mais diversas classes sociais, e não só nas classes A e B. As C e D, muitos deles têm até mais de uma linha”, comenta Luciana Medeiros, sócia da PwC Brasil.

Segundo o estudo, o consumo do mercado para é encarado como uma questão de conquista e esforço individual. 61% se esforçam para comprar coisas que não tiveram condições financeiras de ter quando eram mais jovens. Outros 71% se sentem realizados quando economizam para comprar um produto e conseguem. O estudo ainda levantou tendências, chamadas de transformações para o varejo e para o consumo. A primeira foi em relação ao policonsumidor. 63% dos brasileiros já compraram online e fizeram retirada em lojas físicas. Além disso, o estudo mostrou que a maioria dos consumidores está nas classes C, D e E.

“Primeiro temos o que chamamos de policonsumidor. 63% dos brasileiros já compraram online e fizeram retirada em loja física. O que isso quer dizer? Fala muito sobre essa questão do phygital, que para as classes C, D e E é uma realidade. Muitas vezes pensamos que só A e B vão comprar no digital, mas não. Essa questão de integrar esses dois mundos, tanto do mundo digital, quanto da experiência da loja, de olhar o produto. Como de, dentro da loja, os consumidores das classes C, D e E vão fazer comparações. Eles vão olhar quais são os comentários sobre aquele produto. Ele faz a utilização desses dois ambientes. Ele vai estar dentro de uma loja, e comprando via digital”, comenta Luciana.

Eletrodomésticos lideraram compras

Tendência durante a pandemia, a compra de eletrodoméstico não foi deixada de lado no período pós pandêmico. Prova disso é que 66% dos ouvidos já têm ou desejam adquirir um eletrodoméstico inteligente nos próximos 12 meses, sendo que 41% já possuem e 25% pretendem comprar nos próximos 12 meses. Já outros 61% gostariam de ter eletrônicos e eletrodomésticos mais modernos do que os que têm atualmente. O estudo mostrou ainda que 47% dos brasileiros passaram a se importar mais com eletrônicos e eletrodomésticos mais modernos em relação há dez anos. Apenas 15% declaram se importar menos.

Outro ponto, 66% dos consumidores dependem mais da internet, do que dependia há 10 anos. Além disso, 65% se preocupam mais com o uso de seus dados pessoais pelas empresas do que há 10 anos.

Aspecto ESG importa

Outro aspecto mostrado pela pesquisa foi o chamado “consumidor da verdade”, voltado às questões de ESG. As classes C, D e E consideram essas causas. A mudança nesse cenário é significativa, tanto que 70% dos consumidores se declaram dispostos a pagar mais por marcas que apoiem causas ambientais. Já as marcas que apoiam causas sociais são preferidas de 69%. 86% estão dispostos a priorizar marcas e lojas sustentáveis, e outros 55% de entrevistados prestam mais atenção nas causas que uma marca apoia, quando perguntado em relação há dez anos.

“Ligado a esse ponto, temos o que chamamos de ‘consumidor com propósito’. 86% dos entrevistados estão dispostos a priorizar marcas e lojas sustentáveis. Para nós, esse patamar é altíssimo. 53% já deixaram de comprar uma marca por falta de responsabilidade social. Não imaginávamos que o consumidor de baixa renda estivesse tão ligado aos aspectos de ESG como ele realmente está. Falamos da maior parte da população. É mais do que falar que abraça uma causa social; o consumidor quer ver na prática. Ele quer ver como é que aquela empresa realmente está atuando de uma forma ligada seus temas de ESG no dia a dia”, acrescenta.

Outro tema mostrado pelo estudo, chamado de “a nova arena Circular”, mostrou que a população de baixa renda, hoje, busca produtos usados não por questão financeira, mas por querer aquele item. Os dados revelam que os públicos C, D e E entendem que aquele produto é factível de comprar usado, e não há a necessidade de um novo. Para esse interesse dos consumidores, as redes sociais têm sido portais de compra. Prova disso é que 40% (44 milhões) já compraram produtos por essas plataformas. Outros 38% (42 milhões) já compraram itens usados em sites e aplicativos especializados. Os descontos também têm um lugar especial, pois, 35% (38 milhões) dos consumidores já participaram de jogos/games para acumular pontos em troca de descontos e benefícios.

Fonte: Varejo SA