CNDL: perda de emprego e de renda são maiores causas de inadimplência

O cenário de dificuldades que ainda assombra a economia do país vem contribuindo para o alto endividamento dos brasileiros. É o que revela pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). E as principais causas da inadimplência entre os que tinham dívidas em atraso há mais de três meses da realização do estudo foram perda do emprego (30%) — que chega a 31% nas classes C, D e E —, redução da renda (29%), empréstimo do nome para terceiros (14%) e falta de controle financeiro (13%).

Considerando aqueles que se endividaram por descontrole ou por conseguirem crédito fácil, 36% disseram que compraram porque se fossem esperar sobrar dinheiro, demorariam para conseguir. Outros 33% quiseram aproveitar as promoções oferecidas pelas lojas, levando-os a contrair gastos extras sem avaliar o orçamento. Já 14% reconhecem não ter negociado bem os preços no momento da compra, enquanto 11% disseram estar tristes e, por essa razão, compraram mais do que o necessário para se sentir melhor.

O levantamento mostra também que muitos chegam até a negligenciar as despesas do dia a dia: 46% sabem pouco ou nada sobre o valor de suas contas básicas, como luz, água, telefone, aluguel, plano de saúde, condomínio e mensalidade escolar. Outros 53% admitem ter pouco conhecimento em relação à própria renda do mês, entre salários, recebimento de aluguéis e demais rendimentos. Já mais da metade (52%) desconhece o número total de parcelas das compras realizadas por meio do crédito.

“Apesar de a conjuntura econômica continuar afetando o bolso da população, tanto pelo desemprego elevado quanto pela diminuição da renda, ainda se vê o mau hábito do brasileiro em não controlar suas finanças. Boa parte da inadimplência é reflexo de uma falta de conscientização em controlar o quantose ganha e se gasta, provocando esse desequilíbrio no orçamento”, avalia o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior.

Estado emocional influencia inadimplência: 42% passavam por problemas financeiros e 14% foram levados pela ansiedade

Além da falta de planejamento financeiro, o estado emocional diante de determinadas situações pode influenciar negativamente o orçamento. Ao investigar o que contribui para um desequilíbrio nas contas do ponto de vista emocional, a pesquisa constatou que o fator número um está ligado aos problemas financeiros (42%). Em seguida, 14% dos entrevistados mencionaram a ansiedade e 12% citaram a insatisfação ou problemas no trabalho como responsável por esse tipo de comportamento. Outros 9% contraíram dívidas enquanto passavam por dificuldades no relacionamento familiar. Por outro lado, 24% disseram não estar vivenciando nenhum problema emocional no período em que se endividaram.

Apesar dos transtornos provocados pela inadimplência, poucos são os que se mostraram dispostos a adotar novos hábitos para uma vida financeira saudável. Entre os que se endividaram por descontrole ou compras por impulso, 47% reconhecem não ter feito nada para mudar de atitude. Metade desses alega não considerar o problema tão grande (52%), enquanto 34% argumentam que este hábito faz parte do seu jeito de ser e que nunca irão mudar. Já 11% afirmam que a situação não provoca nenhum tipo de incômodo. Em contrapartida, 53% tentaram mudar sua atitude para evitar gastos desnecessários.

Além disso, questionados sobre como lidaram com a situação, seis em cada dez (66%) revelam que não buscaram qualquer ajuda para resolver suas dificuldades com o controle das contas. Nesse caso, 58% justificaram a decisão dizendo serem capazes de resolver os problemas sozinhos, ao passo que 24% afirmaram não ter dinheiro para contratar ajuda profissional e 18% não sabiam a quem recorrer. Apenas um terço (34%) disse ter tomado algum tipo de providência, dos quais 62% pediram apoio a um amigo ou parente para organizar as contas, 19% procuraram ajuda profissional e 16% algum tipo de auxílio psicológico para ter mais controle sobre as compras e o orçamento. Outros 41% disseram ter tentado ajuda após outras medidas sem sucesso.

45% extrapolam o orçamento e 32% admitem às vezes deixar de pagar alguma conta para comprar algo que desejam

A impulsividade, motivada pelo desejo de adquirir um produto ou serviço sem pensar no impacto nas contas mensais, pode colocar em risco o equilíbrio do orçamento. Nesse aspecto, a pesquisa aponta certa contradição entre os inadimplentes ouvidos. Sete em cada dez (70%) entrevistados garantem que costumam avaliar os custos de serviços ou assinaturas para ver se podem cortá-los e 68% dizem planejar antes de fazer alguma compra.

Entretanto, nos últimos três meses, 33% fizeram compras, mesmo sabendo que seria difícil pagá-las, ao passo que 24% compraram sem pensar se conseguiriam pagar ou não e 17% fizeram aquisições sabendo que não teriam como pagar. Além disso, 45% declararam gastar mais do que o orçamento permite e 44% quase sempre costumam ceder aos desejos e impulsos quando querem muito comprar alguma coisa.

Ainda de acordo com o levantamento, a imprudência de alguns consumidores chega a tal o ponto em que se negligencia o pagamento de compromissos para satisfazer uma vontade:32% admitem que às vezes deixam de pagar uma conta para comprar algo que se deseja. Além disso, 36% reconhecem que nos dias em que não estão muito bem acabam comprando coisas não planejadas para se sentirem valorizados.

“O consumo como mecanismo de alívio emocional é uma armadilha perigosa por proporcionar apenas uma satisfação temporária. No dia seguinte os problemas continuam os mesmos, com a diferença de que agora há mais um compromisso a pagar, mais uma dívida pressionando o orçamento. Nesses casos, uma alternativa seria ter acompanhamento psicológico para detectar os motivos que levam a pessoa a buscar, nas compras, o conforto e a autoestima que ela tanto procura”, orienta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Metodologia

A pesquisa ouviu 600 consumidores com contas em atraso há mais de três meses acima de 18 anos, de ambos os gêneros, de todas as classes sociais e que residem nas 27 capitais do país. A margem de erro é de no máximo 3,4 pontos a um intervalo de confiança de 95%.

Fonte: CNDL