Ainda sem dados oficiais para medir o impacto da crise do novo coronavírus no mercado de trabalho, entidades setoriais tentam mapear como empresários têm reagido a esse choque. Pesquisas de associações apontam que a demissão não é a primeira opção dos empregadores, embora em muitos casos ela não tenha sido evitada.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) não tem número fechado, mas calcula que, considerando queda de 41% no faturamento do varejo em março ante igual mês de 2019, há potencial para destruição de 1,8 milhão de postos formais em três meses. “Estatísticas mostram cerca de 1,2 milhão de acordos para reduzir jornada ou suspender contrato. É um universo pequeno perto do número de trabalhadores formais, então faz pensar que o grosso do impacto ainda pode vir com demissão”, diz Fabio Bentes, economista da CNC.
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL-RJ), Marcelo Mérida, cita que o momento não é mais de emergência apenas e sim de “eminência de caos social com risco de encerramento em massa de atividades empresariais do comércio, que empregam em todo o Brasil milhões de trabalhadores”. E, continua o lojista e dirigente do setor: “O comércio está morrendo e por enquanto não há densidade das medidas anunciadas, que não chegam à ponta, principalmente no crédito e que não atendem ao cenário de guerra que vivemos. É preciso um amplo plano de reconstrução da economia nacional e do comércio”, defende Marcelo Mérida, lembrando que a FCDL-RJ tem lutado por crédito com juros zero de bancos públicos e regras diferenciadas e desburocratizadas de acesso às linhas.
Levantamento da associação da indústria de máquinas e equipamentos (Abimaq) feito entre 30 de março e 3 de abril a partir de uma amostra de associadas aponta que 21,5% demitiram parte de seus funcionários (cerca de 16,4% do quadro) em razão da pandemia. Foram cerca de 11 mil postos diretos fechados, ou 3% dos trabalhadores do setor. A medida mais citada, por 63% dos empresários, porém, foi o oferecimento de férias individuais, para 27% dos funcionários.
Com 86% dos fabricantes relatando piora na atividade, o temor é que o número de demissões cresça significativamente. Segundo José Velloso, presidente-executivo da Abimaq, a estimativa atual é que o contingente chegue a 50 mil desempregados diretos e 150 mil indiretos.
Das empresas ouvidas, cerca de um terço já buscou crédito para capital de giro em bancos, sendo que a finalidade mais citada (48%) era custear a folha de pagamento. Segundo as empresas, as condições médias encontradas foram juros de 14,3% ao ano, com carência de sete meses e prazo de 26 meses. Apenas 11% afirmaram já terem finalizado o processo – entre aquelas que ainda não tomaram os recursos, 20% alegaram falta de crédito no mercado.
“Nenhuma ação de crédito chegou à ponta. Empresas de pequeno e médio porte estão sem capital de giro. Aqueles que recebidos pelos bancos encontram juros no dobro do que tinham”, diz Velloso. “Isso vai empurrar ainda mais as empresas para problemas.”
Para comércio e serviços, a preocupação é ainda maior. Segundo a associação de bares e restaurantes (Abrasel), cerca de 350 mil postos foram fechados até 10 de abril. A entidade alerta que os cortes no início de maio poderão alcançar 1 milhão, caso estabelecimentos não retornem a suas atividades, ainda que gradativamente.
Fonte: Assessoria com Valor Econômico