Influenciados pelo cenário econômico adverso, os micro e pequenos empresários (MPEs) estão pouco dispostos a tomar crédito. De acordo com o indicador mensal calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a intenção de demanda por crédito nos próximos três meses registrou um baixo patamar de 14,69 pontos no último mês de março. Embora o resultado tenha ficado acima do observado em fevereiro, quando o indicador estava em 11,98 pontos, os dados permanecem na parte inferior da escala.
Quanto mais próximo de 100, maior é a probabilidade de os empresários procurarem crédito e quanto mais próximo de zero, menos propensos eles estão para tomar recursos emprestados para os seus negócios.
Para o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, o baixo desempenho da economia brasileira segue ditando o baixo apetite dos micro e pequenos empresários na procura por crédito. “Além de boa parte dos empresários considerar que consegue manter seu negócio sem precisar recorrer ao crédito bancário, há o mau momento econômico do país. Sem boas perspectivas em meio à atividade econômica enfraquecida e da queda da demanda do consumidor por bens e serviços, os empresários estão cautelosos e preferem não assumir compromissos para o longo prazo”, explica o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.
Quase um terço dos MPEs acha que está difícil conseguir crédito
Em termos percentuais, oito em cada dez (82,4%) micro e pequenos empresários não pretendem tomar crédito emprestado nos próximos 90 dias. Entre esses, a maior parte rejeita tomar recursos emprestados porque consegue manter o negócio com recursos próprios (57,5%) e quase um quarto (24,7%) não pensa em realizar investimentos que exijam a tomada de recursos de terceiros. Para completar, 12,6% se dizem desmotivados em virtude das altas taxas de juros.
A maior parte (32,1%) dos micro e pequenos empresários considera difícil conseguir empréstimos e financiamentos e a burocracia é a principal causa da dificuldade, apontada por 50,6% deles. A barreira dos juros aparece em segundo lugar no ranking, apontada por 32,3% como empecilho na hora de contratar crédito.
Na avaliação dos entrevistados, empréstimos e financiamentos são os créditos mais difíceis de serem contratadas, citados por 30,5% e 18,1%, respectivamente. “A combinação de burocracia e juros altos são um obstáculo à contratação de crédito e consequentemente para o investimento, o que acaba por impactar o crescimento do país”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Entre os poucos entrevistados que pretendem contratar crédito, a modalidade mais citada é o micro crédito, mencionada por 56,7%, seguido pela conta garantida (16,5%). Os recursos emprestados serão utilizados principalmente para formação de capital de giro (34,0%), compra de estoque (21,6%) e pagamento de dívidas (21,6%).
Indicador de Demanda por Investimentos atinge 28,45 pontos
Com a demanda do consumidor por bens e serviços retraída e a atividade econômica em queda, inclusive com piora dos índices de empregabilidade, renda e aumento da inadimplência, o micro e pequeno empresariado brasileiro tem se mostrado pouco interessado em realizar investimentos em seus negócios. O indicador de propensão a investir registrou somente 28,45 pontos em março último. Houve um avanço na comparação com fevereiro, quando o indicador estava em 21,52 pontos, mas apesar da melhora, o patamar ainda é baixo, pois segue distante dos 100 pontos da escala do indicador.
Em termos percentuais, apenas 26,5% dos micro e pequenos empresários pretendem investir nos próximos três meses, contra 66,6% que não pretendem fazê-lo. “A recessão e o aumento do custo do capital tornam os empresários mais cautelosos diante da possibilidade de expandir seus negócios. Além das dificuldades econômicas, as incertezas no campo da política também impactam o humor de empresários e consumidores”, afirma Pinheiro.
Entre a parcela minoritária de empresários que pretendem investir nos próximos 90 dias, os investimentos prioritários serão reforma da empresa (27,8%),
ampliação de estoques (27,4%), compra de equipamentos e maquinários (27,4%), e investimentos em propaganda e comunicação (21,2%). A principal fonte de recursos para o investimento é o capital próprio (69,3%).
Metodologia
Os Indicadores de Demanda por Crédito e de Propensão para investimentos do Micro e Pequeno Empresário calculados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) levam em consideração 800 empreendimentos com até 49 funcionários, nas 27 unidades da federação, incluindo capitais e interior. As micro e pequenas empresas representam 39% e 35% do universo de empresas brasileiras nos segmentos de comércio e serviços, respectivamente.