Os primeiros indicadores de atividade para julho sinalizam que a recuperação no terceiro trimestre, após o fundo do poço esperado para abril a junho, pode ser mais rápida do que o previsto inicialmente, ao menos no curto prazo. Para a segunda metade do ano como um todo, porém, as incertezas são grandes, sobretudo no que diz respeito à dinâmica da pandemia, à reação dos serviços, ao fim de programas do governo e a perspectivas fiscais.
Eduardo Yuki, economista chefe da Panamby Capital, traça um “percurso” de indicadores mais positivos para o início do terceiro trimestre, da demanda à oferta. Desde meados de abril, ele diz, índices de isolamento social vêm diminuindo. O indicador semanal da Cielo para faturamento das vendas no varejo, que chegou a tombar 52% na quarta semana de março, ante o momento pré-pandemia (fevereiro), caía 13% na última semana de julho. “É um pouco mais de consumo voltando”, diz Yuki. Economistas citam ainda, para “medir” o comércio, a venda de veículos, pelos dados da associação dos concessionários, que subiu 26% ante junho, segundo ajuste sazonal da LCA Consultores.
Ele menciona ainda o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria, calculado pela Fundação Getulio Vargas, que avançou 5,7 pontos percentuais em julho, para 72,3%. “O Nuci voltou 80% do que caiu. De fato, as empresas estão usando mais máquinas e fatores de produção”, diz.
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria no Brasil atingiu o nível recorde de 58,2 em julho, enquanto o PMI de serviços até subiu para 42,5, ante 35,9 em junho, mas ainda está abaixo de 50, indicando retração da atividade.
Se a atividade em julho começa bem, já garante a possibilidade de um terceiro trimestre “bem legal” para o Produto Interno Bruto (PIB), diz Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos.
Ela projeta alta de 6,8% ante o segundo trimestre. “Estou confortável, mas esses primeiros ‘cheiros’ dizem que pode ser uma alta um pouco mais forte. Não é um crescimento só por carrego estatístico, mas sim dos setores ganhando força”, afirma.
A possibilidade de o auxílio emergencial ser estendido até dezembro, com valor menor, foi incorporada pela Panamby, que prevê altas de 6,5% no PIB do terceiro trimestre e de cerca de 3% no quarto, fechando 2020 com queda de 4%. Yuki vê “riscos altistas” para o segundo semestre na aparente poupança precaucional das famílias, que poderia sustentar consumo, e na política monetária, pela enorme injeção de liquidez e pelos efeitos defasados do corte de juros na economia real.
Fonte: Valor Econômico