A busca por resultados pelos profissionais não deve criar um disputa predatória dentro do ambiente corporativo
A necessidade de cumprir metas de produtividade é uma realidade em todas as organizações. Mas para que a prática não afete o clima organizacional, deve ser conduzida com habilidade.
“O líder maior da empresa é quem deve estabelecer o tom da competitividade interna. Por ser um tema delicado, existe o risco de passar do ponto e virar conflito entre colegas. Costumo dizer que comandar a competitividade de maneira saudável é uma arte”, diz o fundador da Empreenda Consultoria Empresarial, César Souza.
Segundo ele, a recomendação é que as metas sejam claras e compartilhadas entre todos. “Por exemplo, se para a equipe da área comercial a meta é aumentar o número de clientes, a ação deve ser coerente com o aumento da produção, para isso, a equipe de suprimentos tem de comprar mais e melhor, e a área de marketing deve produzir campanha com esse objetivo. O ideal é que as metas tenham interdependência entre as áreas para que um funcionário some com o outro.”
Diretor de RH da rede de drogarias Onofre, Marco Antonio Gomes diz que a empresa barra a competição predatória por meio da governança corporativa e incentivo à conduta ética feita pela área de compliance.
Respeito. “Nossa orientação sobre o comportamento dos funcionários é clara quanto à questão do respeito com o outro. Ao serem contratados, todos ficam sabendo que um dos princípios básicos da companhia é o respeito e que a competição agressiva não é bem-vista dentro da cultura da empresa”, conta o executivo.
Gomes afirma que todos são orientados a ouvir, debater e dialogar muito. “Nossos gestores não estimulam a conquista de resultado a qualquer custo, eles fazem isso de outra forma, respeitando os espaços. Tanto, que não contratamos aquele tipo de pessoa com sangue nos olhos e faca nos dentes para conseguir resultados a qualquer custo”, ressalta.
Na McCain do Brasil, os valores da empresa também não fomentam a competição como forma de alcançar as metas. “A cultura da companhia estimula a obtenção de resultados de forma sólida e sustentável, sem que haja prejuízo aos colegas, gestores e equipes”, diz o gerente de RH, Maurício Tasca.
O gestor conta que a empresa cultiva um ambiente de trabalho favorável e prazeroso, sem estímulo a qualquer tipo de canibalismo em detrimento de conquistas próprias.
“Todos começam o ano fiscal sabendo quais são suas metas e os objetivos a serem trabalhados. Na área de vendas, praticamos política de remuneração variável, mas de forma muito transparente. Mesmo assim, o clima de animosidade não ocorre em hipótese alguma, porque as metas são claras e todos sabem quais indicadores são usados”, afirma.
Diretora de marketing e qualidade da McCain, Renata Figueiredo conta que cada funcionário tem sua meta. “A empresa estimula cada um de nós a atingir e superar as próprias metas. Então, é muito mais uma questão individual do que uma competição com os colegas. Acho essa estratégia bacana, porque faz com que cada um busque a sua própria superação.”
Renata diz que trabalhou em outra companhia que adotava linha de pensamento semelhante. “Mas conheço histórias de mercado sobre empresas que estimulam a competição agressiva. Isso depende da cultura organizacional.”
Desestímulo. Segundo Gomes, empresas que tiram proveito da competição entre colegas caminham sobre uma linha muito tênue entre serem agressivas ao extremo e o risco de desestimular as pessoas por se sentirem ameaçadas.
“Considero que adotar o estilo de competitividade que produz sensação de ameaça representa perigo para organização, pois pode acarretar a perda de talentos”, afirma.
Gomes acrescenta que no processo seletivo da Onofre os recrutadores avaliam a maturidade do candidato perante momentos de dificuldades e conflitos.
“Procuramos tirar o máximo do nosso staff. São pessoas que conseguem fazer mais dentro de seu universo. Reconhecemos esse tipo de pessoa quando ela sofre uma adversidade e consegue mudar a situação usando sua inteligência. Estimulamos e aplaudimos quem compete consigo mesmo.”
Souza, da Empreenda, salienta que, nesse processo, o papel do líder é fazer com que os funcionários melhores possam ajudar os outros a crescer também, gerando um clima harmônico para que suba a barra de resultado para todos. “Essa postura exige elevado nível de maturidade e inteligência emocional entre as pessoas.”
Segundo ele, além de exigir transparência, integridade e respeito das equipes, as empresas devem realizar premiações que contemplem, não apenas quem supera as metas, mas também quem está na área de apoio. “Tem de criar um clima de ganha-ganha, sempre celebrando a vitória de alguns, mas sem ser em detrimento de outros.”
Ele afirma que o ideal é que os prêmios sejam intangíveis. “Prêmio em dinheiro tende a aguçar a competição que passa do ponto. As pessoas gostam muito de receber reconhecimento, como matéria no jornal interno, ou ser chamada ao palco na convenção anual da empresa.”
Segundo o fundador da Empreenda Consultoria Empresarial, César Souza, manter a competitividade saudável entre os membros da equipe não é uma questão técnica, mas de habilidade. “Na área de vendas, por exemplo, as metas devem ser estabelecidas dividindo o território entre os membros da equipe. Não pode haver uma zona cinzenta, com pessoas lutando pela meta dentro do mesmo território”, afirma.
Souza recomenda que a competição saudável sempre distribua prêmios para diferentes categorias, contemplando vários profissionais.
Sócio-fundador da rede de gastronomia saudável Boali, Fernando Bueno é responsável pela área de RH da marca, que está há dez anos no mercado. Ele conta que o estabelecimento de metas foi surgindo de forma natural na companhia, voltadas tanto para franqueados quanto para funcionários.
“Com o tempo, os desafios se tornaram mais profissionalizados. Além de trocar informações com outros empresários, também aprendi muito na prática, administrando dez lojas próprias”, conta.
Segundo ele, a competitividade na Boali, porém, não é por quem vende mais. “Os funcionários não competem entre si, competem pela loja.”
Bueno diz que os 270 colaboradores são estimulados de várias formas. “Além de recompensa em dinheiro, oferecemos prêmios como utensílios domésticos, ou elegemos o funcionário do mês de cada unidade. A competição ocorre de acordo com a realidade de cada unidade”, afirma.
O empresário conta que a partir do terceiro mês de contratação, os funcionários estão mais engajados e passam a ter meta mensal. “Temos alguns formatos de controle interno como atendimento, limpeza de loja, organização e atitude de exemplo para os demais membros da equipe. No final do mês, ocorre confraternização entre as equipes de cada unidade para que ocorra a premiação.”
Gerente de uma das unidades da marca, Jane Brito conta que divide a meta mensal por semana e repassa às equipes quais são as metas diárias, para facilitar o acompanhamento.
“Nosso sistema de metas é trabalhado em grupo, por turno. Por ser uma competição que ocorre entre os turnos, as equipes ficam muito motivadas e tudo ocorre da forma mais saudável possível. Os times já aprenderam que trabalhando pelo benefício da unidade, todos ganham.”
Jane afirma que quando a unidade atinge a meta mensal, os membros dos dois grupos recebem remuneração em dinheiro e a comemoração reúne o pessoal dos dois turnos. “Nessas ocasiões, além do prêmio, oferecemos café da manhã, fazemos algumas brincadeiras e falamos dos resultados obtidos. Aproveito para dar uma lembrancinha, algo bem simbólico.
Fonte: Estadão
O post Competição saudável dentro das empresas é possível apareceu primeiro em CDL Padua.