Com crise política, mercado reduz aposta em queda dos juros

A expectativa da maior parte dos economistas do mercado financeiro é de que o colegiado reduza a Selic em 1 ponto porcentual, de 11,25% para 10,25% ao ano

Brasília – A diretoria do Banco Central (BC) inicia nesta terça-feira, 30, sua primeira reunião para decidir os rumos da taxa básica de juros desde que, há duas semanas, a delação de executivos da JBS provocou um terremoto no governo Michel Temer.

Com a crise política, que ameaça a aprovação das reformas no Congresso, a expectativa da maior parte dos economistas do mercado financeiro é de que o colegiado reduza a Selic em 1 ponto porcentual, de 11,25% para 10,25% ao ano.

Antes da crise, várias instituições esperavam por 1,25 ponto de corte. Levantamento realizado pelo Projeções Broadcast mostra que, de 57 instituições financeiras, 47 esperam por corte de 1 ponto porcentual da Selic nesta quarta-feira, 31.

Outras oito casas projetam corte menor, de 0,75 ponto, enquanto apenas duas mantêm a expectativa por redução de 1,25 ponto porcentual.A maior cautela em relação aos juros é resultado direto do aumento do risco político.

Até a delação da JBS, instituições como Itaú Unibanco e Banco Safra haviam elevado de 1 para 1,25 ponto porcentual a estimativa de corte da Selic. Após o estouro da crise, os economistas dos dois bancos voltaram atrás e passaram a citar redução menor, de 1 ponto porcentual. O mesmo ocorreu com outras instituições.

Por traz disso está a leitura de que, com as delações da JBS, o governo Temer terá dificuldades para aprovar no Congresso as reformas trabalhista e previdenciária. “A crise política tornou a decisão do Copom mais difícil exatamente porque elevou o grau de incerteza em relação aos próximos meses”, avalia o economista Mauro Schneider, da MCM Consultores Associados.

Para ele, o momento ainda é favorável para o corte de juros, já que a inflação está comportada. “Ainda mais com a redução recente do preço da gasolina e da bandeira tarifária de energia. E temos também a atividade, que lamentavelmente não dá sinais de muita força”, afirma Schneider.

“O problema é que, com a crise política, naturalmente as perspectivas para as reformas e para o câmbio ficaram mais incertas”, diz o economista. Assim, a MCM é uma das casas que espera por corte de 1 ponto porcentual da Selic – e não de 1,25 ponto.

Na semana em que a crise estourou, o próprio presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ao abordar as reformas, defendeu “a importância de se continuar no caminho correto, a despeito do aumento da incerteza política”.

Para José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, o corte de apenas 1 ponto porcentual da Selic deve ser colocado na conta da crise política. “O Copom comenta muito sobre a necessidade de aprovação de reformas. E essa questão, nós sabemos que não há a mínima ideia de como vai ficar”, afirma.

Fonte: Exame.

 

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