Sem “pequenininhas”, crédito fica concentrado entre as grandes empresas na crise

Mais da metade do crédito concedido por instituições financeiras nos últimos dois meses foi contratado por grandes empresas. Segundo dados apresentados pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, companhias com faturamento anual acima de R$ 500 milhões responderam por 58% das operações registradas entre 15 de março e 16 de maio, que somaram R$ 441,7 bilhões.

O balanço foi divulgado por Campos Neto durante uma reunião no dia 25 de maio com a Organização das Cooperativas Brasileiras sobre as medidas adotadas pela autoridade monetária para mitigar os efeitos da crise da pandemia do Covid-19, com o volume dizendo respeito apenas às novas contratações.

O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Rio de Janeiro (FCDL-RJ), Marcelo Mérida, assinala que “as dificuldades impostas na oferta das linhas com muita burocracia e pouca agilidade estão deixando morrer por falta de crédito milhares de micro e pequenas empresas no Brasil, principalmente no comércio, duramente afetado pelas medidas de isolamento e distanciamento social. É preciso menos burocracia e maior comprometimento para ajudar as empresas a não fechar suas portas, e assim continuar gerando e mantendo empregos”.

Do total de financiamentos, as grandes empresas — classificadas como “corporate”, no jargão financeiro — contrataram R$ 255,8 bilhões (equivalente a 58% do total). Empresas que faturam por ano menos de R$ 10 milhões, classificadas no relatório como micro e pequenas , realizaram R$ 35,1 bilhões em operações, o que corresponde a 7,9% do total, de acordo com os dados do BC.

Desde o início da pandemia, pequenas empresas têm relatado dificuldades para obter acesso a crédito , principalmente pela dificuldade em apresentar garantias aos bancos. A exigência é feita pelas instituições financeiras para evitar prejuízos em caso de calote, um risco alto devido à expectativa de recessão.

Para contornar esse problema, o governo aposta em um programa voltado especificamente para pequenos negócios, batizado de Pronampe. O novo modelo prevê que o Tesouro Nacional repasse R$ 15,9 bilhões para assumir 85% do risco nas operações. O dinheiro só poderá ser usado para financiar operações voltadas para empresas que faturam até R$ 4,8 milhões por ano.

Para Marcelo Mérida, é preciso regras mais flexibilizadas para esse momento de crise, citando que as novas linhas do governo federal, no Pronampe, foram descaracterizadas com a sanção presidencial com vetos ao que dizia o texto original aprovado no Congresso, excluindo um grande numero de empresas saudáveis que precisam destes recursos e que tem limitações creditícias, em função do cenário que enfrentam, mas apresentam aval”.

 

Fonte: Assessoria com Brasil Econômico