Guedes quer pacote de R$ 65 bilhões para ajudar empresas a gerar empregos

O pacote de combate ao desemprego em estudo pelo governo prevê medidas em ao menos dez frentes.

Em uma delas, está prevista a liberação de até R$ 65 bilhões para capital de giro de empresas. Em outra, a ideia é criar uma espécie de rede de “agências de trabalho” privadas.

As propostas estão na mesa do ministro Paulo Guedes (Economia) e já foram apresentadas para um grupo seleto de empresários e banqueiros. Guedes ainda precisa dar o aval às sugestões de alguns de seus secretários.

Para estimular a atividade empresarial, a equipe econômica estuda uma mudança numa regra da Justiça do Trabalho, onde estão parados R$ 65 bilhões na forma de depósitos recursais –valor em juízo para poder recorrer de sentença trabalhista.

Desde 2017, a reforma trabalhista permitiu que seja apresentado um seguro como garantia, em vez do depósito em dinheiro, que compromete os limites de crédito das companhias. Mas isso não vale para processos anteriores à medida.

Por isso, uma das sugestões é aplicar a mesma norma para o estoque e liberar esses recursos para as empresas.

O time de Guedes quer também incentivos para a qualificação de desempregados e trabalhadores autônomos.

Guedes vai reunir a equipe para decidir sobre qual será a versão final do pacote de estímulo ao emprego e a data para lançar as medidas. Além disso, a equipe econômica quer criar um grupo técnico para acompanhar o andamento dos projeto e traçar metas.

Para viabilizar o projeto em tempo de aperto no Orçamento, podem ser usados recursos do Sistema S –que reúne instituições empresariais voltadas à capacitação e que recebem recursos públicos– e de entidades filantrópicas de educação.

Ainda na área de qualificação, o plano prevê incentivos fiscais para a empresa que investir no aprimoramento dos empregados.

Está em avaliação uma compensação de parte do PIS/Pasep, que seria maior no caso de trabalhador contratado por menos de um ano. O objetivo é aumentar a produtividade e reter os empregos no país.

Outra medida em estudo envolve parcerias para que empresas privadas passem a atuar como uma espécie de agência de trabalho.

Se uma empresa de recursos humanos, por exemplo, conseguir emprego para quem está recebendo seguro-desemprego, terá um prêmio: parte restante que a pessoa teria direito. Provavelmente, metade.

Com isso, é esperada uma redução nos gastos com seguro-desemprego, estimados em R$ 41 bilhões para 2020.

Também foi sugerido ao ministro uma reformulação do Sine (Sistema Nacional de Emprego) ou até mesmo a privatização do órgão. Ala da equipe econômica avalia que o sistema, criado em 1975, é antigo, baseado em estrutura física e cara.

Segundo dados do governo, hoje, apenas 3,13% das contratações formais no país são realizadas pelo Sine, que tem atuado em qualificação e intermediação de empresas e trabalhadores.

Uma das principais propostas para estimular a criação de vagas prevê a redução de tributos para empresas que contratarem jovens para o primeiro emprego ou profissionais de qualquer idade desempregados há mais de dois anos.

Os benefícios podem ser: desoneração da folha de pagamentos (parcela patronal para o INSS), isenção de contribuições para Sistema S e redução no valor pago para o FGTS (Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço). Essa vantagem para o empresário deve ser temporária, talvez pelos seis primeiros meses de contrato.

Se o empregado for demitido antes do período a ser determinado pelo governo, a empresa terá que pagar os tributos que foram descontados.

A equipe econômica estuda usar recursos do Sistema S para bancar esses novos contratos, que vêm sendo chamados de Emprego Verde e Amarelo. Outra forma de financiar a ideia é fazer ajustes nas renúncias fiscais –perder de arrecadação para estimular algum setor da economia.

Ao apresentar a proposta para alguns empresários, o governo fez questão de ressaltar que todos os direitos do trabalhador estão garantidos nessas contratações.

Patrocinado pela Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, o programa Emprega+ também tem foco na qualificação e criação de empregos, mas envolve, entre outras medidas, a criação de um “voucher” (tipo de título que funciona como um vale).

Os vales seriam distribuídos para que as pessoas possam fazer cursos e voltar ao mercado de trabalho. O orçamento estimado para a iniciativa é de R$ 8 bilhões em quatro anos, e a expectativa é atender a 4,4 milhões de desempregados.

O governo também estuda reestruturar o sistema do MEI (Microempreendedor Individual), programa que formaliza os negócios de micro e pequenos empreendedores. Atualmente, o teto anual de faturamento para se enquadrar como MEI é de R$ 81 mil.

Diferentes faixas de rende e de contribuição podem ser criadas dentro do programa. A ideia é ampliar a inclusão previdenciária e a formalização.

O projeto também permitirá a ampliação do número de empregados para o MEI. Hoje a lei permite apenas a contração de um funcionário —e somente 3% dos cadastrados no programa possuem empregados. Mas se espera que, com estímulo, novas vagas possam ser criadas por microempreendedores. Assim, a proposta é permitir a contração de dois.

Em outra frente, a equipe de Guedes avalia a criação de um programa chamado CERTSimples, voltado para reduzir a taxa de juros nos créditos para micro e pequenas empresas.

Isso poderia ser feito, segundo o governo, aumentando a transparência de informações sobre os empreendimentos para os bancos.

Ainda na área bancária, o time de Guedes analisa uma medida para ampliar a oferta de crédito, liberando R$ 10 bilhões de recursos próprios do Banco do Nordeste.

A proposta envolve oferecer o serviço para comunidades, para pessoas sem comprovação de renda e sem garantias.

Fonte: Folha de São Paulo